DOM MURILO CLIMACOPOR MERCÊ DE DEUS E DA SÉ APOSTÓLICABISPO DIOCESANO DE BRASILIA
Ao contemplar a vida e missão de nossa Igreja particular de Brasília, sinto em meu coração a necessidade de dirigir-vos uma palavra de paternidade e de catequese sobre um tema que nos assola durante esses últimos dias e que lhes ajudarão de modo muito concreto a melhor entender e viver a vida ministerial.
“De fato, não é nós mesmos que anunciamos, mas a Jesus Cristo, o Senhor. Quanto a nós, apresentamo-nos como servos vossos, por causa de Jesus” (2 Cor 4,5). A tentação de colocar a si mesmo no centro da vida ministerial não é uma realidade exclusiva dos dias de hoje, mas algo que assola a igreja a muitos anos. Contudo, Deus que é bom e rico em misericórdia não desampara sua igreja. Dessa maneira, somos chamado a ser reflexo do Bom Pastor, que veio não para ser servido, mas para servir e dar a vida (cf. Mc 10,45).
O Concílio Vaticano II, na Presbyterorum Ordinis, recorda que o presbítero é ordenado não para si mesmo, mas “para apascentar o povo de Deus e edificar o Corpo de Cristo”. A ordenação não é, portanto, uma promoção, mas um rebaixamento evangélico, um “kenosis” (despojamento), à semelhança de Cristo que se esvaziou a si mesmo, assumindo a condição de servo (Fl 2,7). A ordenação, ao configurar o presbítero a Cristo Cabeça e Pastor, confia-lhe não uma dignidade pessoal a ser ostentada, mas uma missão de serviço humilde. Quando voltamos o nosso ministério para satisfazer a nós mesmos, o transformamos em objeto de poder, reduzindo-o a mero degrau de ascensão eclesiástica, quando na realidade, o sentido da razão do sacerdócio é Cristo.
A busca por reconhecimento é incompatível com a lógica do Evangelho. A vaidade clerical, ainda que disfarçada em zelo e amor pela tradição, é uma ameaça constante à santidade do ministério. Torna o coração dividido, coloca a obra acima do Obreiro, a visibilidade acima da fidelidade. Geramos rivalidades, comparações e invejas que desfiguram a beleza do presbitério unido.
A missão do presbítero não pode ser compreendida fora da unidade do presbitério com o seu bispo. São João Paulo II em Pastores Dabo Vobis recorda que o presbitério é uma única fraternidade sacramental, chamada a viver a comunhão no serviço. O Cristo rezou pela unidade de seus discípulos: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Que também ele estejam em nós, a fim que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). Essa unidade não é uniformidade, mas comunhão de carismas ordenados à única missão. E é na unidade em que a Igreja particular encontra seu princípio visível de unidade (Lumen Gentium, n. 23), e é na obediência e no serviço que o presbítero realiza sua missão.
Queridos irmãos, um clero dividido e um clero que busca carreirismo é como um ramo separado da videira: seca e não dá frutos (cf. Jo 15,6). Por isso, exorto-vos à fidelidade eclesial, à comunhão sincera, à corresponsabilidade pastoral. Convido cada um a um exame de consciência sincero: buscamos Cristo ou buscamos a nós mesmos? Nossa maior alegria é servir ou ser reconhecidos? Vivemos em comunhão ou em competição? Qual é a minha missão como presbítero?
Exorto, portanto, a todos os irmão a renovar o vosso sim a Cristo, vosso sim a igreja, para que possamos ser sinal comunhão e unidade para sermos a presença viva do Senhor.
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