Carta Pastoral | A Missão do Presbítero

  

DOM MURILO CLIMACO
POR MERCÊ DE DEUS E DA SÉ APOSTÓLICA
BISPO DIOCESANO DE BRASILIA


02 de Setembro de 2025

CARTA PASTORAL
“A MISSÃO DO PRESBÍTERO”

Aos que a está carta virem ou cuja leitura ouvirem ou cujo conhecimento tomarem, saúde e paz e bênção no Senhor, pela intercessão da Virgem Aparecida.

Ao contemplar a vida e missão de nossa Igreja particular de Brasília, sinto em meu coração a necessidade de dirigir-vos uma palavra de paternidade e de catequese sobre um tema que nos assola durante esses últimos dias e que lhes ajudarão de modo muito concreto a melhor entender e viver a vida ministerial.


“De fato, não é nós mesmos que anunciamos, mas a Jesus Cristo, o Senhor. Quanto a nós, apresentamo-nos como servos vossos, por causa de Jesus” (2 Cor 4,5). A tentação de colocar a si mesmo no centro da vida ministerial não é uma realidade exclusiva dos dias de hoje, mas algo que assola a igreja a muitos anos. Contudo, Deus que é bom e rico em misericórdia não desampara sua igreja. Dessa maneira, somos chamado a ser reflexo do Bom Pastor, que veio não para ser servido, mas para servir e dar a vida (cf. Mc 10,45).


O Concílio Vaticano II, na Presbyterorum Ordinis, recorda que o presbítero é ordenado não para si mesmo, mas “para apascentar o povo de Deus e edificar o Corpo de Cristo”. A ordenação não é, portanto, uma promoção, mas um rebaixamento evangélico, um “kenosis” (despojamento), à semelhança de Cristo que se esvaziou a si mesmo, assumindo a condição de servo (Fl 2,7). A ordenação, ao configurar o presbítero a Cristo Cabeça e Pastor, confia-lhe não uma dignidade pessoal a ser ostentada, mas uma missão de serviço humilde. Quando voltamos o nosso ministério para satisfazer a nós mesmos, o transformamos em objeto de poder, reduzindo-o a mero degrau de ascensão eclesiástica, quando na realidade, o sentido da razão do sacerdócio é Cristo.


A busca por reconhecimento é incompatível com a lógica do Evangelho.  A vaidade clerical, ainda que disfarçada em zelo e amor pela tradição, é uma ameaça constante à santidade do ministério. Torna o coração dividido, coloca a obra acima do Obreiro, a visibilidade acima da fidelidade. Geramos rivalidades, comparações e invejas que desfiguram a beleza do presbitério unido.


A missão do presbítero não pode ser compreendida fora da unidade do presbitério com o seu bispo. São João Paulo II em Pastores Dabo Vobis recorda que o presbitério é uma única fraternidade sacramental, chamada a viver a comunhão no serviço. O Cristo rezou pela unidade de seus discípulos: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Que também ele estejam em nós, a fim que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). Essa unidade não é uniformidade, mas comunhão de carismas ordenados à única missão. E é na unidade em que a Igreja particular encontra seu princípio visível de unidade (Lumen Gentium, n. 23), e é na obediência e no serviço que o presbítero realiza sua missão.


Queridos irmãos, um clero dividido e um clero que busca carreirismo é como um ramo separado da videira: seca e não dá frutos (cf. Jo 15,6). Por isso, exorto-vos à fidelidade eclesial, à comunhão sincera, à corresponsabilidade pastoral. Convido cada um a um exame de consciência sincero: buscamos Cristo ou buscamos a nós mesmos? Nossa maior alegria é servir ou ser reconhecidos? Vivemos em comunhão ou em competição? Qual é a minha missão como presbítero?


A vida do presbítero só pode ser compreendida na comunhão eclesial. Não somos ministros isolados, mas membros de um único presbitério unido ao bispo. Quando caminhamos em comunhão, manifestamos Deus na beleza da fraternidade. A união e a convivência em fraternidade é a manifestação viva do Evangelho. Não vivamos nosso ministério para nós mesmos, nem para satisfazer vaidades ou projetos pessoais. Mas sim, lembremo-nos que tudo é para Cristo e por Cristo. É Ele quem nos sustenta e é para Ele nosso serviço e é n’Ele em que encontramos nossa razão. O sacerdócio não é uma função humana, mas é uma função divina que nos foi dado. Quando não vivemos em comunhão ou não depositamos em Cristo a razão dele sacerdócio, o rebaixamos a algo humana e falho.

Exorto, portanto, a todos os irmão a renovar o vosso sim a Cristo, vosso sim a igreja, para que possamos ser sinal comunhão e unidade para sermos a presença viva do Senhor. 

Que a Virgem Maria nos ensine a viver este ministério com humildade e fidelidade.

Dom Murilo Climaco
Bispo de Brasilia

Fontes bibliográficas:

Concílio Vaticano II. Presbyterorum ordinis. Vaticano, 07 dez. 1965. Disponível em:https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651207_presbyterorum-ordinis_po.html. Acesso em: 2 set. 2025. 

Concílio Vaticano II. Lumen gentium. Vaticano, 21 nov. 1964. Disponível em:

ERPEN, Jackson. O sacerdócio dos cristãos. Vatican News, 16 dez. 2020. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-12/sacerdocio-cristaos-padre-gerson-schmidt.html. Acesso em: 2 set. 2025.

JOÃO PAULO II. Pastores dabo vobis. Vaticano, 25 mar. 1992. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_25031992_pastores-dabo-vobis.html. Acesso em: 2 set. 2025.

TEMPESTA, Cardeal Orani João. A kênosis de Cristo e a nossa. CNBB, 24 mar. 2023. Disponível em: https://www.cnbb.org.br/a-kenosis-de-cristo-e-a-nossa/. Acesso em: 2 set. 2025. 




Postar um comentário

0 Comentários